O livro é um objecto que me acompanha em quase todos os momentos da minha vida. ( sim, casa de banho incluída, confesso. Detesto “tempos mortos” e acho que deviam inventar livros em plástico, como os dos bebés, para ler no duche).
Este facto, que parece tão banal, já causou diversos incidentes interessantes na minha vida. Por duas vezes influenciou de forma positiva a decisão de empregadores em entrevistas de trabalho.
Ora, o último episódio ocorreu há dois dias, no meu emprego novo. Estou a ler um livro do Leon Uris sobre experiências médicas nos campos de concentração nazi (assim uma coisinha leve para me por bem disposta logo de manhã).
O livro é emprestado e está em bastante mau estado. Ora, estava eu toda contente a lê-lo na minha hora de almoço quando alguns colegas foram ter comigo para “socializar” (e eu que estava tão sossegadinha, sem fazer mal a ninguém). Nisto uma colega pergunta-me se estava a ler aquilo para a escola. Estou mais que habituada a esta pergunta e a resposta é sempre um curto: “não, é mesmo por vontade própria”. Ela tentou disfarçar o espanto que tomava conta dela, argumentando: “Ah, é que está muito velhinho e geralmente só os livros da escola é que ficam assim”.
Ah pois, claro. Faz todo o sentido. Os livros “pessoais” têm de estar bem tratados, os da escola, esses sim, já podem ter as folhas amarelas e a capa a cair. Como é que não me lembrei deste código de conduta antes? Já que cometemos a loucura de comprar um livro SEM SER OBRIGATÓRIO, ao menos que este esteja apresentável e, de preferência, que tenha uma capa bem bonitinha.
O episódio fez-me lembrar imediatamente um outro, numa viagem de expresso para Alcobaça. Felizmente não enjoo, e lá tinha eu o meu livrinho para me entreter nos dez minutos até à entrada para a Auto-Estrada, altura em que já estaria a dormir, certamente.
Ao meu lado estava uma rapariga que, ao contrário de mim, estava cheia de vontade de fazer amigos novos. E tinha uma revista Maria na mão… O meu ligeiro snobismo entrou logo em alerta e pensei: “estou tramada!”. Depois dos habituais desbloqueadores de conversa, ela pergunta-me o que estou a ler. Levanto o livro e digo: “Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago”…
… A rapariga não me dirigiu mais a palavra durante a viagem inteira.
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20 comentários:
O livro é mau estado deve ser emprestado do teu irmão.. :-)
quem acusa anonimamento o meu irmão de maltratar os seus livros? por acaso até não é :)
há que partir daqui para se fazer duas apologias:
1. a da literatura como instrumento de inclusão ou exclusão, de medição de gajos potencialmente interessantes ou de desastres em potência.
A metodologia é clara, e cientificamente asséptica: lê Thomas Mann, Kafka, Borges, good, lê Paulo Coelho, Pedro Paixão, O meu pipi, a descartar imediatamente, se ler Lobo Antunes, enfim, é caso para fugir imediatamente, mudar para um lugar bem distante, no exíguo autocarro.
2. a do snobbismo arrogante como meio eficaz de escapar a todas as interferências nefastas.
j.
Também podes nao usar nenhuma metodologia em concreto e simplesmente viver o momento e ver o que dá... mas o esquema racional e de metodologia pelos vistos é "feature" de familia... :-) Luis
vão com calma, meninos, nao quero discussões no meu blog.
Paulo, nao enganavas ninguem com o primeiro comentário, vi logo que era teu.
e porque é que estas a assinar com J? assim confunde-se com o meu
ai que começo a usar dos meus poderes de censura nao tarda nada
nada como um blog (ou blogg, ou blogue) para despertar as sementes de tirania que estavam para aí reprimidas. Pronto pronto, eu entro na ordem, deixo as delícias do anononimato e passo a portar-me bem. Promessa de escuteiro (de escuteiro católico, com "u")!
j. (isto é: p.)
;-)
o lápis azul da censura ataca de novo. até combina com as cores do blog
Tu e o seu irmão chegam a ser mais parecidos na forma como escrevem, do que como falam, apesar da tua acutilância ser única nos dois registos!
...já agora podias emprestar o livro velhinho a esse senhor dos clichés do Lobo Antunes, para ele ir treinando a leitura.
Cristina
Eu já li (entre outtros) Mann, Kafka, Paulo Coelho e Lobo Antunes.
Posso dizer que deixei livros por acabar de todos eles - os últimos do Lobo Antunes são intragáveis, e o castelo e o processo irritaram-me. Também houveram livros de cada um deles que gostei (sim - gostei do "Veronica decide morrer" do Paulo Coelho).
Isto faz de mim um bom ou mau elemento no autocarro? Agora fiquei na dúvida...
Miguelb
Também gostei do Verónica decide morrer (pelo menos na altura em que o li), também acho que os últimos do Lobo Antunes mais não são que exercício de estilo vazio, pura técnica (e o primeiro, Memórias de Elefante: absolutamente intragável); o Mann nunca li.
Há uma clara diferença entre mim e a j., alter ego da outra joana, que aqui escreve, inventado por mim para animar as hostes(e que acabou de morrer, infectado pelo vírus terrível da censura). Se fosse a j. a responder-te - invoco-a do reino dos mortos - diria que te dava o benefício da dúvida, mas com muitas reticências, por não teres gostado de dois dos livros preferidos dela (os do joseph k.).
Apesar disso, acho que era bem capaz de te sussurrar o número de telefone por entre as páginas de um livro. ;)
um abraço,
paulo
Eu costumo ler o jornal "A Bola"... dá para entrar no autocarro?? Luis
Ehhhh pá - a bola já não sei... O teu lugar até eu evitaria!
Eu diria que podes apanhar o autocarro, sobretudo se fores com o resto da claque ver um jogo do benfica - desde que não deixes o jornal em cima do banco quando saíres!
quem é que deixou este comentario anonimo? assinem meninos!
tu les a bola?! bem, no autocarro podes entrar, no meu carro é que ja nao sei!
só se levares o publico para contrabalançar :P
Joana
A J. morreu de doença? Não foi isso que ouvi dizer! O que eu consegui apurar foi que ela foi acusada do crime de roubo de identidade e o pai matou-a (provavelmente por vergonha).
Eu acuso-me como o responsável pelo penúltimo comentário não assinado, foi esquecimento - mas tendo em conta o conteúdo também não acho que fosse assim tão importante identificar-me...
Miguelb
não se trata do conteúdo dos comentátios, gosto de saber quem escreve no meu blog e quero habituar os meus leitores a um regime de não anonimato
a j. morreu, decididamente, de doença, da mesma que matou a Anna Politovskaia, um Estado-blog dirigista, que condena a liberdade de expressão. j. morreu como mártir, pela dignidade da democracia. :P
mas, já agora, antes de a matar de vez, quero esclarecer uma coisa. eu quando escrevi aqueles dois posts assinando "j." não tencionava, de todo, que as pessoas pensassem que era a autora do blog que os escrevia, não reparei que ela também assinava J. Escolhi o nome "j." porque queria que fosse uma espécie de alter-ego da autora do blog. Era suposto ser uma rapariga mistério, só depois me apercebi da confusão.
Por isso não houve tentativa nenhuma de roubo de identidade, isso seria muito imbecil e errado. Nem há, por conseguinte, vergonha; estou muito orgulhoso da minha criação, que nunca, mas nunca, se sentaria, nem perto, de alguém que lesse a Bola. Há que evitá-los, a todo o custo. j. speaking. over and out.
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