quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os "meias horas"

Na minha viagem de metro até ao trabalho, por entre a pisadela do jovem à minha esquerda e a cotovelada da senhora à minha direita, consegui observar o que me rodeava.

E calculei que talvez 50% das pessoas (pelo menos das que conseguiram um lugar sentado no meio da selva que é o metro às 8h30) estavam a ler jornais “meias horas”. Ou seja, os controversos jornais gratuitos.

Recentemente, li uma forte crítica na Única a este tipo de jornais. O jornalista que escreveu o artigo fez uma análise geral ao número infinito de jornais gratuitos que existem nos nossos dias, tendo dado nota positiva apenas ao Global.

Frequentemente, formadores de jornalismo ou editores meus referem-se a estes “pasquins” de forma bastante depreciativa. Por terem uma informação demasiado reduzida, por serem cópias da Agência Lusa, por se cingirem demasiado a uma cidade (Lisboa), por roubarem clientela aos jornais “a sério”.

Não concordo com eles.

Afinal, hoje dezenas de pessoas estavam a ler o jornal no metro. Podia não ser a informação mais avançada, a mais completa, a mais bem escrita. Mas as pessoas estavam, de facto, a ler o que se passava no país e no Mundo (sim, alguns deles estariam só a ler a secção de desporto, admito).

E não acredito que todos os leitores que compravam o Público, o Expresso ou o Diário de Notícias o tenham deixado de o fazer por um Metro ou um Destak.

Talvez seja ingénuo da minha parte mas, ao contrário da ideia generalizada (pelo menos no meio do jornalismo), acredito que os novos jornais gratuitos não pioraram o nível de informação que chega ao público português. Antes, estenderam-na (de forma algo deficiente, não digo que não) a um sector da população que antes não a consumia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O que é que acham disto?

Um stand automóvel e uma empresa de concessão de crédito pretendiam oferecer uma vacina contra o Cancro do Colo do Útero (HPV) na compra de um carro, mas o INFARMED cancelou a promoção por publicitar ilegalmente um medicamento sujeito a prescrição médica.

Em causa estavam as campanhas publicitárias à iniciativa do stand de automóveis Auto Motriz e da empresa de concessão de crédito Credibom, que se iniciaram no passado fim-de-semana em várias rádios, caixas multibanco, jornais e revistas especializadas do ramo automóvel.

Em resposta às questões da agência Lusa, a Autoridade Nacional do Medicamento (INFARMED) indicou que, depois de tomar conhecimento do caso e desenvolver várias diligências notificou as entidades envolvidas para a "cessação imediata, a título cautelar" da actividade de publicitação ilegal.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A enxaqueca (II): o desabafo

Esta tem sido uma semana para esquecer em termos de dores de cabeça. Desde segunda feira que sinto a dor a estalar e a avisar-me: “vou aumentar ao ponto de te incapacitar, pelo menos por um dia”.

Ao fim de vários anos a sofrer de enxaquecas, começamos a ter um sexto sentido para estas coisas. Se bem que há sempre a enxaqueca-surpresa, que aparece do nada, quando menos se espera.


Mas esta foi uma semana típica para crise de enxaqueca: ando cansada, a comer mal e com muito stress e ansiedade no trabalho. Era de ver que ela vinha aí… outra vez.

A ultima deixou-me de cama a vomitar. A melhor maneira que eu tenho para explicar a dor em si é imaginarem que o vosso cérebro inchou e não cabe no vosso crânio. Juntem a isto a sensação de uma mão a apertar um dos vossos olhos. Há ainda o peso de dois quilos que sentem a cair para a frente quando baixam a cabeça.

O problema é que, regra geral, as pessoas que não sofrem de enxaquecas não percebem o nível de dor que isto pode atingir. Quando tive essa enxaqueca estava a trabalhar como assistente de produção e acho que a produtora só acreditou em mim quando me viu cair redonda (ou, vá, esbelta) no chão.

Aqui onde estou agora, mostram-se compreensivos mas não percebem muito bem porque é que não estou a conseguir somar dois mais dois.

A nível pessoal, acaba por ser um fenómeno mesmo muito incapacitante e até propenso a momentos depressivos.

Neste momento trabalho a tempo inteiro e tenho aulas à noite três vezes por semana, como tantas outras pessoas, e sinto que não estou a aguentar como devia. Sinto que devia ser capaz de fazer isto com mais energia em vez de me andar a arrastar até às aulas.

Acaba por ser um fenómeno um pouco destrutivo para a auto-estima e sinto também que me torna numa pessoa um pouco difícil de lidar nestas alturas, pois fico muito queixosa.

Por outro lado, sinto-me uma autêntica viciada em analgésicos. E irrita pensar que, mesmo tendo cuidado com a alimentação e as horas de sono, possa ter uma crise a qualquer altura.

Desculpem o desabafo, mas estava a precisar e esta até pode ser uma maneira de perceberem melhor o meu estado de espírito nestas alturas.

E parece que tenho mesmo de comer menos chocolate, só faltava mais essa.

A enxaqueca (I): explicação científica

Aqui fica uma explicação cientifica que antecede um post que estou a escrever e que se prevê muito queixoso:


A enxaqueca é uma doença crónica neurológica caracterizada por episódios dolorosos e debilitantes de cefaleia. As crises interferem com as actividades pessoais e profissionais dos indivíduos atingidos. Estes são obrigados a viver uma vida com restrições, preocupando-se em manter uma alimentação regular e adequada, evitando os factores conhecidos que despoletam as crises de enxaqueca, como a privação de sono, o stress, ruídos fortes, luzes brilhantes, álcool, chocolate, vinho tinto e algumas variedades de queijo.

Também têm de viver com a incerteza de quando ocorrerá a crise seguinte e qual será a gravidade da mesma. Durante uma crise grave de enxaqueca, a incapacidade de um doente é comparável à de um tetraplégico.

A enxaqueca tem uma prevalência desproporcional nas mulheres, estando relacionada com as alterações hormonais associadas aos ciclos menstruais.

A crise em si caracteriza-se por uma cefaleia intensa, náuseas e vómitos, intolerância à luz e ao ruído. Podem ser influenciadas tanto por factores genéticos como ambientais.

Em aproximadamente 60% dos doentes surgem sintomas premonitórios, incluindo alterações de humor, no comportamento, no apetite e no nível de energia, hipersensibilidade, apatia, dificuldade de concentração e rigidez no pescoço.

20% dos doentes têm enxaquecas com aura, caracterizada por sintomas neurológicos: fenómenos visuais, sensoriais ou motores; dormência ao longo de um lado da face, mão ou braço.

A cefaleia típica da enxaqueca é unilateral e excruciante e qualquer actividade física rotineira ou simples movimento de cabeça podem agravar a dor.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A viagem

Ontem fui para casa de comboio. Tinha o habitual livro comigo mas li pouco. Li pouco porque estive entretida a observar as pessoas. Estava uma daquelas tardes frias, escuras e ventosas, muito propensas à nostalgia.

À minha frente ainda na estação estava um senhor cego, ou quase cego porque se notava que ainda via um pouco e usava óculos com lentes graduadas. Estava com dificuldade para entrar no comboio e uma senhora ajudou-o e sentou-o no lugar que um outro passageiro cedeu.

Toda a gente foi muito educada mas ao mesmo tempo aquilo foi um pequeno espectáculo porque estávamos todos (sim, eu também) a seguir atentamente o episódio.

Não sei o que levou as outras pessoas a olhar mas sei o que me chamou a atenção a mim. Não foi o facto de ele ser cego. Se bem que isso tenha sido o catalizador. Se ele tivesse uma visão normal se calhar não reparava nele.

Aquele ser humano que estava à minha frente tinha um ar triste. Uma tristeza que parecia vir de dentro e contaminar tudo em volta. Ou, pelo menos, contaminar-me a mim.

O cabelo desalinhado, a barba por fazer, a roupa quente mas descuidada … tudo lhe dava um certo ar de abandono que me afectou bastante durante a viagem inteira. Era daquelas pessoas que parecem não esperar nada. E que não têm ninguém que espere por elas.

Talvez fosse eu. Talvez tenha romanceado demasiado e confundido tristeza pura com o cansaço de mais um dia de rotina. Afinal, também eu já andei de comboio com ar cansado e desleixado. Também eu já chorei em público no final de um dia mau.

Mas havia ali qualquer coisa que me tocou e quase me fez querer perguntar-lhe se, afinal, ele era feliz.

Não o fiz. Podia ser mal interpretada. Podia estar a ser intrometida. Estaria a quebrar uma série de regras criadas pela nossa sociedade. Não fui capaz de sair do meu mundo, do meu egocentrismo.

Peguei no meu livro e li.

E fiquei mais feliz e agradecida do que é costume por a minha mãe me ter ido buscar à estação.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Jogo de influências

Na semana passada, o meu chefe informou-me de que se vai embora no final do mês. A partir de Dezembro, tenho um novo patrão.

A notícia não me deixou nada contente. Desde o início que mantenho uma relação bastante saudável com ele. Sempre respeitou as minhas ideias, é uma pessoa bastante organizada e democrática. Não me controla excessivamente nem me trata como uma subalterna.

É claro que, numa fase inicial, as coisas tendem a correr melhor. Depois, com as dificuldades do dia-a-dia, surgem os primeiros conflitos. Mas, ainda assim, penso que nos iríamos entender.

E ter um bom chefe contribui, sem dúvida, para a motivação de um funcionário. Ainda mais se o trabalho em si não for motivador (que é o meu caso).

Ao informar-me da sua partida, referiu também o quanto gostou de trabalhar comigo durante este mês. Sugeriu até que gostava que eu fosse com ele. Ele vai trabalhar para Santarém e, para mim, pelo menos neste momento, está praticamente fora de questão.

Agora, sinto que tem cometido um grande erro ao longo destes dias. Frequentemente, fala-me da pessoa que o vai substituir, de forma não propriamente abonatória.
Secretamente, desejo que todos os defeitos que ele aponta ao meu futuro chefe estejam a ser exacerbados pela competitividade, pelas diferenças de carácter e pela vontade que ele tem de que eu vá trabalhar com ele.

No entanto, na prática, tem sido prejudicial. Ao criticar a pessoa que aí vem, está a deixar-me num estado de grande preocupação e ansiedade.
Por outro lado, apesar de tentar resistir, começo a sentir a minha opinião sobre uma pessoa que nem conheço a ser influenciada.

Por mais que tente, tenho a certeza de que já não irei olhar para o novo chefe de forma imparcial. E isto a junta-se à resistência à mudança, que penso ser inerente à maioria dos seres humanos (A mudança pode ser tentadora mas é, quase sempre, assustadora também).

Nunca gostei que me procurassem influenciar sobre determinada pessoa, e evito sempre fazê-lo. Pode dar mau resultado para todos os lados, incluindo para a pessoa que procura influenciar. Sobretudo se a opinião é dada sem que eu a tenha pedido.

No meio de todo este jogo, é bom saber que a qualidade do meu trabalho é apreciada, sobretudo numa área que não me agrada e que não me dá o mínimo prazer.

Sou elogiada por chefes, encenadores, editores e professores, o que me tem vindo a dar uma confiança que nunca nasceu dentro de mim de forma espontânea.

Ironicamente, recuso ser influenciada sobre terceiros, mas a opinião de outras pessoas influencia sempre a forma como me vejo a mim mesma.

Às vezes pergunto-me porque necessito dessa validação externa para acreditar em mim mesma.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

"O Gato Preto e Outros Fantasmas" - Fotos

Desta peça tenho ainda muito poucas fotos e, além disso, estão muito escuras (mas acho que é de proposito).

Não foi a personagem que me deu mais prazer a fazer, tenho de confessar, mas gostei de trabalhar com um encenador e grupo diferentes do que estava habituada para ver como era trabalhar "fora de casa" . Foi enriquecedor. Além disso, apesar de ter uma base esverdeada e olheiras, pois fazia de empregada fantasma, acho que foi aquela em que estava mais favorecida :)


Finalmente, " O Gato Preto e Outros Fantasmas".

A peça estava com uma estrutura muito gira. Passava-se no palácio da quinta da subserra e o espectador seguia os actores nas diversas salas (tipo T de Lempicka, para quem viu, mas não havia divisão entre cenas, havia só uma linha de história).

Portanto, foi completamente diferente de uma peça de palco. aqui, eu estava num quarto pequeno, deitada numa cama, e as pessoas estavam muito próximas de mim. Isto implicou lidar muito de perto com o público, o que nem sempre era fácil. Chegaram mesmo a sentar-se na cama onde eu estava e a abrir portas que deviam estar fechadas.



Fizemos a peça em Junho (logo a seguir a ter feito a Mulher do Campo) e houve reposição em Setembro. E, claro, houve muitas peripécias.

Num dos espectáculos da reposição, quando me levanto, sinto o vestido e o soutien a cairem do lado direito. Tinha só o avental, branco e fino, por cima. Estou a representar (felizmente ainda sem fala) e a pensar... agora o que é que eu faço? Decidi agarrar no avental.

Durante a cena tinha de me calçar e pegar numa tijela. Para esse grupo de espectadores a Amélia devia ter um problema qualquer porque fiz isto tudo com a mão direita ao peito :)




Tinhamos também umas larvas que era suposto eu andar a carregar e que acabei por nao conseguir. Elas estavam numa tigela em cima da mesa da cozinha e era suposto sairem do frigorifico, meio adormecidas, apenas minutos antes da peça começar.

Na estreia da reposição tirámo-las cedo demais e estavam bem vivinhas. Ora, eu estava a fazer nesse dia a peça sem lentes de contacto (e não podia ter óculos, claro), e quando fui à cozinha só ouvia "crack" "crack".
A minha colega contou-me depois que eram larvas por toooooodoo o lado e o público também teve de se desviar para não as pisar.

"A Mulher do Campo" - Fotos




"A Mulher do Campo" foi, sem dúvida, a peça que mais gostei de fazer até hoje. Fazia o papel, precisamente, de mulher do campo: uma totó inocente que vem das palhotas directamente para Londres. Casou-se com um homem que teme, acima de tudo, ser traído.

É então que conhece o garanhão da cidade e a coisa torna-se uma grande confusão.

Primeiro ponho algumas fotos de ensaios. Para vos mostrar que é, de facto, muito cansativo, mostro-vos a minha fronha (em obras), num ensaio que foi uns dois dias antes da estreia:




Os ensaios eram sobretudo espaço de muito stress e discussão :) Na segunda foto, estamos já no final do ensaio, claramente a levar na cabeça. Reparem como eu discretamente baixo a cabeça e arranjo o corpete, como se não fosse nada comigo.

Na primeira, estava as voltas com o colar de pérolas, enquanto a carla, sem cabeleira, parecia um Mimo.








Não consigo publicar as fotos desta peça sem rir até às lagrimas. Falei em Mimo... De facto, no intervalo dos ensaios, quando aquilo estava a correr mesmo mal, era quase cómico ver a nossa figura ridicula. Pareciamos 13 ou 14 mimos zangados e preocupados.

Eu e o meu "marido" tinhamos uma relação engraçada. Num minuto gritávamos um com o outro, no outro ríamos e elogiávamo-nos. Ele teve alguma dificuldade em decorar o texto porque andava a trabalhar que nem um cão e às vezes era uma aventura conseguir que a cena continuasse, mas acho que em termos de interpretação foi dos melhores. Adorei trabalhar com ele, sempre me defendeu e foi um bom apoio.








A segunda foto mostra um dos momentos mais humilhantes da peça no que me dizia respeito. lol. é uma altura em que, para que eu possa sair à rua, o meu marido me tenta mascarar de rapaz. Mas não resulta e o Garanhão vem fazer a corte.

Aqui implicava estar com um fato verde que parecia de um duende e um chapeu que me fazia parecer o capitão gancho. Era também uma cena complicada porque estava muito calor e aqui estava rodeada de três rapazes a mandarem piropos por isso tinha de estar muito entusiasmada. De todas as vezes me senti bastante tonta e o meu maior medo era dar-me qualquer coisa em plena cena. Mas sobrevivi.











Nesta peça tinha de mudar de roupa várias vezes, duas das quais com muita urgência. Tinha dois ou três colegas preparados com tudo e lá andava eu a voar de calças e saia na mão. No teatro é preciso ter duas coisas essenciais: espirito de entre-ajuda e pouca vergonha.

Outra coisa gira é que a minha mãe me receitou uns calmantes leves para tomar antes das cenas. Aquilo acalma sobretudo o ritmo cardiaco e o tremor. Ao fim do primeiro dia já tinha dois ou tres colegas "agarrados" ao produto.






Era uma peça longa que sempre exigiu muito de nós (e do público hehe). As coisas nos ensaios chegaram a azedar mas depois correu tudo bem.

Pessoalmente, sinto que aprendi muito. Tinha um dos papéis principais e vários monologos (que, para mim,é o pior. prefiro ter sempre um colega em cena.

Foi feita com suor e sangue (quase literalmente porque o meu "marido" ameaçava-me com uma faca e foram várias as cenas em que vi aquilo aproximar-se perigosamente do meu olho).

Mas foi uma altura muito, muito especial :)

"A Promessa" - Fotos

Hoje, e no seguimento do post de ontem, deixo-vos algumas recordações de dois anos de teatro :)

Aqui ficam as fotos da primeira peça em que participei, em Dezembro do ano passado (no primeiro ano não fizemos peça, apenas demos apoio ao grupo “dos mais velhos”).

O meu encenador estava a trabalhar com um outro grupo, para além do nosso, na Povoa de Santa Iria. Devido a falta de elenco, convidou alguns dos alunos de Lisboa para participar. Como faltava alguem para fazer uma velha, ele lembrou-se logo de mim :)




Ao rever as fotografias não só me emociono como concluo: não houve uma única peça que me favorecesse a aparência!

N’”A Promessa” fazia de velha coscuvilheira e comilona. Na verdade, passava a peça inteira a comer.





Apesar de ter um papel pequeno, foi um desafio. Para mim, que tive de encarnar alguém muito mais velha que eu (a parte da comida foi fácil). Para o meu colega que me fazia a maquilhagem, para me por velha. Para a figurinista, para me por velha…

Mas resultou. Muitos amigos não me reconheciam e muitos espectadores, pelo menos os que ficavam lá atrás, não notavam que eu era uma rapariga nova.





Nesta última, sou a velha que está a atacar as bolachas.

Foi uma experiência muito curiosa, mas também gratificante, trabalhar com um grupo composto, na sua maioria, por pessoas mais velhas que eu (ou menos novas :) )




Na foto anterior podem ver-me com a boca cheia de bolachas. Eu e as outras "velhas" tinhamos de falar várias vezes com a boca cheia e nunca sabiamos muito bem como aquilo ia sair.

Numa das cenas, certa vez, eu perdi uma soca. Um amigo meu caiu em cena e, durante o tempo que a peça teve em exibição, partiu 3 estátuas da virgem maria.





Revelando mais alguns segredos de bastidores (mas poucos), o sangue de uma das personagens era feito com o velhinho truque do ketchup. era eu quem lhe punha o ketchup no peito e passavamos os dois o resto da peça a cheirar a MacDonald's




O senhor que fazia de padre baralhava frequentemente as falas e uma vez falhou uma deixa. O meu colega, sem a deixa, não se apercebeu que era ele a falar. então, a meio da peça o senhor vira-se para ele e diz: "Fala Zé!"






Aqui fica a última, já do fim do espectáculo. As velhas estão à esquerda e eu sou a do meio. Foi um bom começo :)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Melancholic State Of Mind

"The years shall run like rabbits,
For in my arms I hold
The Flower of the Ages,
And the first love of the world.

But all the clocks in the city
Began to whirr and chime:
"O let not Time deceive you,
You cannot conquer Time."

In the burrows of the Nightmare
Where Justice naked is,
Time watches from the shadow
And coughs when you would kiss.

In headaches and in worry
Vaguely life leaks away,
And Time will have his fancy
Tomorrow or today."


As I Walked Down One Evening
W.H.Auden



Ontem tomei uma decisão difícil. Depois de ponderar sobre o meu tempo e energia (ou falta deles), decidi, ao fim de quase dois anos, sair do meu grupo de teatro. Com um trabalho a full time, aulas três vezes por semana e os muitos trabalhos a que o curso obriga, concluí que sair era a solução mais sensata. E pensei que me ia sentir aliviada quando o fizesse.

Fui um bocadinho inocente.

O meu professor/encenador não só compreendeu como ele próprio me disse que seria praticamente impossível conciliar tudo. Não agora, que há ainda poucos ensaios. Mas daqui a dois meses os ensaios vão intensificar e já conheço o método de trabalho. Ensaios todas as noites, até à uma, duas, três, quatro da manhã…
Racionalmente, sei que não iria aguentar e ia acabar por não fazer um trabalho decente em nenhum dos lados.

Não seria justo para mim nem para as pessoas com quem lido nos diversos projectos em que estou neste momento.

Este é o lado racional.

O lado emocional é que é o problema.

O encenador disse-me, na brincadeira: “ Agora que não estás connosco tens uma vida cinzenta”. Não é inteiramente verdade. Tenho outras alegrias, outras paixões, outros projectos. Mas sem dúvida que vai ficar um bocadinho mais cinzenta. Custa pensar que tenho de ter tempo para vir todos os dias para aqui trabalhar mas não consigo ter tempo para fazer uma das coisas de que mais gosto. É este o meu futuro?

E é esse lado emocional que me faz pensar: “se calhar até consigo fazer tudo isto”, “se calhar não vou sair já”… “Estou a ser sensata ou preguiçosa?”

Porque ontem saí de lá com um nó no estômago. Pelos ensaios que me dão cabo da cabeça e dos nervos. Pela ansiedade das estreias. E de todos os espectáculos que se lhe seguem. Pelos bastidores. Pelo momento em que temos aquele bocadinho palco para nós. Pela cumplicidade entre colegas que o público nunca conhecerá. Pelas discussões com o encenador que, passado algum tempo, parecem tão ridículas. Pela tristeza do último espectáculo e do desmontar de uma peça de que já estávamos todos fartos. Pela velha comilona, pela mulher do campo e a empregada fantasma que habitei durante uns tempos. Pelos amigos.

Esses ficam mas vão viver momentos deles, de que eu já não vou fazer parte. E há também os que vão pois na minha visita de ontem fiquei a saber que um dos meus amigos mais próximos vai trabalhar para o estrangeiro ( se bem que, vendo as coisas pelo lado positivo, já tenho casa em Barcelona).


Sou livre de voltar para lá quando quiser, a porta ficou aberta, escancarada mesmo. Mas e se no próximo ano também não puder?

É o fim de uma Era.



PS- A gerência do blog promete recuperar a compostura em breve e retomar a sua pose snob e irónica em breve

PS1- se quiserem ler o poema todo, basta escreverem no google “As I walked Down One Evening” que aparece logo no início.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Uma pequena história

Uma colega minha do curso de Produção está grávida (e é africana, não sei se isso terá ditado o desenrolar dos acontecimentos ou não). Ontem, chegou algo abatida às aulas.

Contou-nos então a seguinte história: foi ao banco depositar dois cheques e, segundo o que nos disse, não se estava a sentir bem. Explicou a situação a uma senhora que estava à frente dela e perguntou-lhe se poderia passar à frente. A dita senhora terá respondido que estava com muita pressa porque ia trabalhar e não lhe deu o lugar.

A minha colega foi então ao balcão perguntar se tinham serviço de atendimento prioritário, ao que a funcionária respondeu que não, mas que estava no bom senso de cada um fazer o que achava correcto.

Perguntou então a outra senhora que estava numa outra fila se poderia ceder-lhe o lugar. A senhora nº 2 terá respondido: “ É realmente uma questão de cada um ter bom senso e a senhora tem de compreender que já estou aqui há muito tempo”. E não lhe cedeu o lugar.

Foi então para o fim da fila e ainda terá ouvido a funcionária e uma cliente comentar a “falta de chá”. Ela acabou por pedir o livro de reclamações.

Não sei que pedaços da história são verídicos ou não. E conheço casos de pessoas que abusam um pouco dos seus direitos. Por exemplo, uma amiga minha levou propositadamente a filha bebé quando foi tratar do BI, só para passar à frente (quando podia tê-la deixado com os avós, o que teria de certeza sido bem mais confortável para a bebé.). Outra disse na Expo98 que estava grávida para não ter de estar na fila.

Agora, eu própria já presenciei cenas bastante infelizes em transportes públicos, seja com grávidas, deficientes ou idosos e não me custa a acreditar que isto tenha acontecido.

Tirem as vossas ilações... (eu deixo)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

também comem criancinhas ao pequeno-almoço

No passado Sábado fui ver a exposição do Hermitage no Palácio da Ajuda. (Já viram como o meu fim de semana foi culto? E ontem ainda fui ao teatro! Só assim para continuar a dar uma de intelectual).

No geral, achei a exposição decepcionante. Muita gente, muitos serviços de loiça, muitos retratos de Czares e muito pouca contextualização histórica.

Agora, houve um episódio que compensou em parte a decepção.

Estava eu a ver uma fotografia dos últimos Romanov quando se aproximam duas senhoras já de uma certa idade. É então que oiço a seguinte conversa:

Senhora 1, quase sussurrando: “Este são aqueles ( a mim até me pareceu que ela disse “estes são os judeus” mas devo ter ouvido mal… era demasiado surrealista para ser verdade) que foram mortos pelos comunistas ……….. os VERMELHOS!”

Senhora 2, levantando a voz: “São muito maus!”


Demasiado delicioso para não partilhar.

Fábrica de Braço de Prata - ou o refúgio dos intelectuais como nós ;)

Há umas semanas li uma reportagem que falava de algumas pérolas por descobrir em Lisboa. Cinco ou seis locais que combinam entretenimento e cultura (nalguns dos casos, cultura “alternativa” ou “underground”).

Espero vir a explorá-los a todos, mesmo os mais “arrojados” (um deles, por exemplo, pertence a um casal que, de vez em quando, abre as portas de casa e faz performances para quem quiser aparecer).

Depois de estudar as várias opções, decidi começar pelo espaço que me pareceu mais interessante e que, curiosamente, fica num dos locais mais improváveis de Lisboa: Braço de Prata. Aliás, ontem estava a falar disto a uma amiga minha, que me perguntou: “isso não é uma estação de comboios?” :) Também é, tens razão mas a estação eu não recomendo...

Recomendo, isso sim, a Fábrica de Braço de Prata. O edifício foi construído em 1908 para ser uma fábrica de material de guerra. Agora, a Eterno Retorno e a Ler Devagar transformaram-no numa grande livraria (que é muito mais do que isso).

Aqui, podem encontrar várias salas (penso que quando o projecto estiver totalmente concluído serão 12), com diversas temáticas. Podem assistir a concertos, exibições de filmes, ler à vossa vontade, comprar livros (alguns a preços bastante acessíveis) ou assistir a lançamentos, jantar ou simplesmente tomar um café com os amigos (eu só bebo água, Miguel).

O espaço é enorme e muito confortável, cada uma das salas tem uma decoração própria, pelo que podem escolher aquela que vos agrada mais. A música está baixa, o que significa que dá para ter uma conversa decente. Mesmo quando há concertos, pois estes realizam-se numa das salas à porta fechada, e se escolherem outra conseguem ouvir; dá uma boa música ambiente. Ah, e não há lugar para bebedeiras ou confusões, o que é uma raridade nos dias que correm (pareço uma velha a falar, mas uma velha culta!).

Enfim, caros leitores, visto que vos considero pessoas interessantes e interessadas (caso contrário não teriam recebido o link do blog), penso que este será um espaço do vosso agrado.

Visitem-no antes que se torne moda e perca metade do seu charme.

www.bracodeprata.org

Pergunta do dia...

Quando é que as pessoas começam a perceber que se têm um rato de infravermelhos não podem por um tapete cheio de desenhos por baixo?

Depois dizem que não funciona bem e não acreditam em mim quando digo que pode ser do tapete: "aaaah, não tires o tapete do rato que depois fica sujo e prende!!!".

E não vale a pena argumentar que se é de infravermelhos, não tem esfera. E se não tem esfera, não fica sujo. E se não fica sujo, não prende. O que prende é o raio do tapete com as cornucópias que puseram por baixo e que baralha o rato todo!

E depois ainda poem tapetes no MEU rato.

Desculpem o desabafo. A semana promete... :)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Ainda os livros...

Estou neste momento a acabar de ler um livro (O tal amachucadinho. É quase poético estarmos no Outuno e ver as folhas do livro, também acastanhadas, caírem e deslizarem suavemente pela rua ). Como não gosto de correr o risco de ficar sem nada para ler a meio da viagem de comboio, nestas alturas costumo andar carregada com dois.

Curiosamente, o próximo que vou ler (O Fantasma de Hitler, do Norman Mailer) continua a explorar a temática do holocausto e do Nazismo.

Já estou a imaginar os comentários da minha colega, por entre um e outro gole de café: “Esta além de intelectualóide, é Nazi”.