
"A Mulher do Campo" foi, sem dúvida, a peça que mais gostei de fazer até hoje. Fazia o papel, precisamente, de mulher do campo: uma totó inocente que vem das palhotas directamente para Londres. Casou-se com um homem que teme, acima de tudo, ser traído.
É então que conhece o garanhão da cidade e a coisa torna-se uma grande confusão.
Primeiro ponho algumas fotos de ensaios. Para vos mostrar que é, de facto, muito cansativo, mostro-vos a minha fronha (em obras), num ensaio que foi uns dois dias antes da estreia:

Os ensaios eram sobretudo espaço de muito stress e discussão :) Na segunda foto, estamos já no final do ensaio, claramente a levar na cabeça. Reparem como eu discretamente baixo a cabeça e arranjo o corpete, como se não fosse nada comigo.
Na primeira, estava as voltas com o colar de pérolas, enquanto a carla, sem cabeleira, parecia um Mimo.


Não consigo publicar as fotos desta peça sem rir até às lagrimas. Falei em Mimo... De facto, no intervalo dos ensaios, quando aquilo estava a correr mesmo mal, era quase cómico ver a nossa figura ridicula. Pareciamos 13 ou 14 mimos zangados e preocupados.
Eu e o meu "marido" tinhamos uma relação engraçada. Num minuto gritávamos um com o outro, no outro ríamos e elogiávamo-nos. Ele teve alguma dificuldade em decorar o texto porque andava a trabalhar que nem um cão e às vezes era uma aventura conseguir que a cena continuasse, mas acho que em termos de interpretação foi dos melhores. Adorei trabalhar com ele, sempre me defendeu e foi um bom apoio.


A segunda foto mostra um dos momentos mais humilhantes da peça no que me dizia respeito. lol. é uma altura em que, para que eu possa sair à rua, o meu marido me tenta mascarar de rapaz. Mas não resulta e o Garanhão vem fazer a corte.
Aqui implicava estar com um fato verde que parecia de um duende e um chapeu que me fazia parecer o capitão gancho. Era também uma cena complicada porque estava muito calor e aqui estava rodeada de três rapazes a mandarem piropos por isso tinha de estar muito entusiasmada. De todas as vezes me senti bastante tonta e o meu maior medo era dar-me qualquer coisa em plena cena. Mas sobrevivi.


Nesta peça tinha de mudar de roupa várias vezes, duas das quais com muita urgência. Tinha dois ou três colegas preparados com tudo e lá andava eu a voar de calças e saia na mão. No teatro é preciso ter duas coisas essenciais: espirito de entre-ajuda e pouca vergonha.
Outra coisa gira é que a minha mãe me receitou uns calmantes leves para tomar antes das cenas. Aquilo acalma sobretudo o ritmo cardiaco e o tremor. Ao fim do primeiro dia já tinha dois ou tres colegas "agarrados" ao produto.


Era uma peça longa que sempre exigiu muito de nós (e do público hehe). As coisas nos ensaios chegaram a azedar mas depois correu tudo bem.
Pessoalmente, sinto que aprendi muito. Tinha um dos papéis principais e vários monologos (que, para mim,é o pior. prefiro ter sempre um colega em cena.
Foi feita com suor e sangue (quase literalmente porque o meu "marido" ameaçava-me com uma faca e foram várias as cenas em que vi aquilo aproximar-se perigosamente do meu olho).
Mas foi uma altura muito, muito especial :)

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