quarta-feira, 26 de março de 2008

A dúvida recorrente

Ontem deitei-me com uma dúvida recorrente na cabeça: e se aos 18 anos tivesse feito tudo diferente? Já com essa idade achava que somos “obrigados” a decidir cedo de mais o nosso futuro. Hoje em dia, tenho a certeza que se tivesse esperado, ou “perdido”, um ou dois anos, o resultado teria sido bem melhor.

Quando acabamos o secundário somos pressionados pela sociedade a não parar. “E agora?”, “Vais trabalhar ou vais para a Universidade?”. “Já sabes o que vais ser, o vais fazer com a tua vida?”.

Eu decidi jogar pelo seguro. Fiel ao meu medo do radical e a da incerteza, entrei para a universidade, para o curso de Relações Internacionais com a (ingénua) esperança de que este me ia abrir portas, não para uma carreira de sonho, mas para um emprego relativamente interessante.

Expectativas claramente goradas.

Claro que tenho dezenas de colegas que se vêem em situações idênticas à minha, que também tiraram um curso com fraquíssimas saídas profissionais (uns trabalham a recibo verde; outros trabalham em lojas; uma parte está desempregada; alguns estão como eu em funções claramente abaixo das suas capacidades e instrução). Toda a gente lê e vê as mesmas reportagens que eu, por isso não vale a pena explorar muito o assunto.


Somos sete cães a um osso e só assim se explica que, tendo tirado o curso que tirei, tendo-me especializado em jornalismo e tendo trabalhado em praticamente todo o tipo de “media” só seja chamada para entrevistas como secretária.

O problema não é falta de capacidades, bem sei, é falta de oportunidades.

Mas, ao contrário de alguns desses meus colegas, não lamento não ter seguido medicina, informática, gestão ou engenharia, os pequenos oásis no deserto profissional português.

Não lamento porque sei que não tenho vocação nenhuma para qualquer uma dessas profissões. Provavelmente nem passava do primeiro ano de faculdade e, caso se desse o milagre de me formar, seria uma terrível profissional.

Agora, há uma coisa que hei de sempre lamentar não ter tentado. Porque é que não tentei o maldito conservatório se não há nada que me dê mais prazer do que vestir outras peles?

Quis seguir o caminho seguro e agora estou aqui. Nunca saberei se acabaria uma actriz desempregada ou se teria o talento e sorte necessárias para fazer coisas realmente interessantes.

Nem sei se me habituaria ao modo de vida tão itinerante e incerto de um artista.

Vão-se os anéis, ficam os dedos…

Dentro de pouco tempo vou saber se continuo no emprego onde estou ou se vou ter de sair. Posso vir a ficar desempregada mas, caso fique, garanto que vou tentar vez tirar o maior proveito dessa situação. Vou tentar, nem que seja pela ultima vez, vingar finalmente numa área de que goste.

Caso não consiga, mais empregos como secretária hão de estar à minha espera.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não te vou dizer que deves olhar para o copo meio cheio ou que dentro em breve tudo já passou. Hoje não.
A tristeza também faz parte de nós e se nos retira energia também nos ajuda a sentir a vida, tanto como a felicidade. A vida também é feita das decisões que tomamos ficando um emaranhado de opções e consequências que nunca sabemos o que teríamos hoje se...

Nem todas as decisões da nossa vida são irreversíveis e como só temos uma vida para viver, é nossa obrigação aproveitá-la bem. Entristece-me ver pessoas resignadas e que não lutam por viver. Eu conheço pessoas assim. A tua tristeza e revolta são sinónimo de vitalidade. A tua vitalidade vai-te dar força para encontrares formas de ser feliz, seja corrigindo as decisões ou encontrando novas formas de realização com aquilo que a vida hoje te oferece. O que é tão bom é termos o futuro e nunca sabemos aquilo que ele nos reserva. Por mais que nos pareça que o nosso destino está ditado, a nossa vitalidade e o mundo que nos rodeia encontram sempre formas de alterar o rumo. Seja no caminho das coisas boas, seja no caminho de coisas más.

A tua tristeza assenta-te tão bem quanto a tua vitalidade. E elas vão-te permitir viver neste mundo real com sensação de caminho percorrido. E já agora com uma pitada de optimismo, também terás a alegria.

Bjs. Luis

Unknown disse...

Cara Joana,

Nem imaginas como o teu post hoje assenta que nem uma luva no meu estado de esp�rito, no meu eu, na minha vida do dia de hoje.

�Agora, h� uma coisa que hei de sempre lamentar n�o ter tentado.�

N�o imaginas as vezes que, na minha curta e j� longa exist�ncia, esta frase j� me assaltou os pensamentos, me corroeu por dentro e me fez sentir culpada por n�o ter tentado o que mais queria, por na hora ter fraquejado ou fugido.

Enfim, cada vez mais compreendo que a ess�ncia � uma s� e que, de uma forma ou de outra, todos temos as nossas d�vidas, paralisias e medos, sendo a capacidade que cada um de n�s tem de os enfrentar e de os derrubar que pode fazer a diferen�a entre Viver e viver.

Dizem que sou reservada� Pois hoje n�o o vou ser contigo e vou escrever como te vejo: uma pessoa inteligente, com um sentido de humor que aprecio muito e que me diverte bastante, fr�gil, amada por aqueles que realmente importam, sem nenhuma raz�o para desistir dos seus sonhos e com muita capacidade de fazer bem aquilo em que acreditar. A vida, �s vezes, mostra-nos caminhos tortuosos, mas h� que os encarar como tempor�rios e como aprendizagens para ocasi�es futuras. Vais ver que ir�s encontrar o teu caminho, seja ele qual for Joana, e leve o tempo que levar. O que importa � nunca desistir.

Beijo grande,

S�nia N.