Na semana passada, o meu chefe informou-me de que se vai embora no final do mês. A partir de Dezembro, tenho um novo patrão.
A notícia não me deixou nada contente. Desde o início que mantenho uma relação bastante saudável com ele. Sempre respeitou as minhas ideias, é uma pessoa bastante organizada e democrática. Não me controla excessivamente nem me trata como uma subalterna.
É claro que, numa fase inicial, as coisas tendem a correr melhor. Depois, com as dificuldades do dia-a-dia, surgem os primeiros conflitos. Mas, ainda assim, penso que nos iríamos entender.
E ter um bom chefe contribui, sem dúvida, para a motivação de um funcionário. Ainda mais se o trabalho em si não for motivador (que é o meu caso).
Ao informar-me da sua partida, referiu também o quanto gostou de trabalhar comigo durante este mês. Sugeriu até que gostava que eu fosse com ele. Ele vai trabalhar para Santarém e, para mim, pelo menos neste momento, está praticamente fora de questão.
Agora, sinto que tem cometido um grande erro ao longo destes dias. Frequentemente, fala-me da pessoa que o vai substituir, de forma não propriamente abonatória.
Secretamente, desejo que todos os defeitos que ele aponta ao meu futuro chefe estejam a ser exacerbados pela competitividade, pelas diferenças de carácter e pela vontade que ele tem de que eu vá trabalhar com ele.
No entanto, na prática, tem sido prejudicial. Ao criticar a pessoa que aí vem, está a deixar-me num estado de grande preocupação e ansiedade.
Por outro lado, apesar de tentar resistir, começo a sentir a minha opinião sobre uma pessoa que nem conheço a ser influenciada.
Por mais que tente, tenho a certeza de que já não irei olhar para o novo chefe de forma imparcial. E isto a junta-se à resistência à mudança, que penso ser inerente à maioria dos seres humanos (A mudança pode ser tentadora mas é, quase sempre, assustadora também).
Nunca gostei que me procurassem influenciar sobre determinada pessoa, e evito sempre fazê-lo. Pode dar mau resultado para todos os lados, incluindo para a pessoa que procura influenciar. Sobretudo se a opinião é dada sem que eu a tenha pedido.
No meio de todo este jogo, é bom saber que a qualidade do meu trabalho é apreciada, sobretudo numa área que não me agrada e que não me dá o mínimo prazer.
Sou elogiada por chefes, encenadores, editores e professores, o que me tem vindo a dar uma confiança que nunca nasceu dentro de mim de forma espontânea.
Ironicamente, recuso ser influenciada sobre terceiros, mas a opinião de outras pessoas influencia sempre a forma como me vejo a mim mesma.
Às vezes pergunto-me porque necessito dessa validação externa para acreditar em mim mesma.
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4 comentários:
Para acreditarmos em nós próprios geralmente é necessário termos consciência do que somos ou não capazes. O feedback é uma poderosa ferramenta para aferirmos se estamos ou não no caminho certo, em que áreas devemos investir e que coisas devemos mudar. Considero o feedback positivo particularmente importante, porque para além destes pontos tem o efeito psicológico adicional de ser motivador e reforçar a auto-confiança.
Pessoalmente quando tenho dúvidas, tento pensar em coisas que nunca pensei vir a conseguir fazer (e nos últimos tempos não têm faltado destas) e que acabei por conseguir ultrapassar. É assim que fico a conhecer os meus (novos) limites e o que consigo ou não fazer. É também assim que vejo que afinal consigo fazer mais do que aquilo que penso à partida.
É normal sentirmos a necessidade de validação externa. Estamos num mundo de pessoas com as quais precisamos de interagir. Muitas vezes a medida do sucesso da nossa vida não é só como nos sentimos em relação ao que fazemos como também o impacto que temos na vida dos outros. Essa também é a herança que cá deixamos. Se num limite tal fosse possível, sentir-me tremendamente realizado no meu interior mas ao mesmo tempo ser inconsequente para os outros, será que a minha vida teria tido significado? Pessoalmente, para além do feedback negativo que me ajuda a melhorar, preciso regularmente de feedback positivo para me dar energia contínua. Saber que estou a ser consequente, que tenho significado. E isso dá-me confiança para os próximos passos que têm incerteza e risco. Luis
Não concordo quando dizes que o teu chefe faz mal em falar mal sobre a pessoa que lhe segue. Se calhar a forma não é a mais correcta, mas o conteúdo - informação que ele transmite - pode realmente ser-te muito útil na tua futura relação. Vê as coisas assim: tu partes para essa relação (com o teu futuro chefe) numa posição de vantagem relativamente a ele pelo simples facto de saberes o que é que algumas pessoas pensam sobre ele. Mesmo que haja muito exagero, é provável que algumas coisas sejam verdades, o que até nem pode ser mau: uma pessoa que para algumas pessoas é anti-social, para outras pode ser agradavelmente sossegado.
Errado seria tu actuares ou formares opiniões com base em informação que não aches fidedigna.
Já agora um comentário: achei que este post tinha demasiadas vírgulas. Se me permites a comparação popularucha: a pontuação é como o trabalho de um árbitro de futebol - é boa quando não se dá por ela.
Miguelb
Eu acho que o teu actual chefe te está a criar uma ansiedade desnecessária em troca do regozijo egoísta que a ideia de ser o bom chefe lhe dá.
Quanto às opiniões externas para te validares - não será tu apenas... humana?
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