quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Melancholic State Of Mind

"The years shall run like rabbits,
For in my arms I hold
The Flower of the Ages,
And the first love of the world.

But all the clocks in the city
Began to whirr and chime:
"O let not Time deceive you,
You cannot conquer Time."

In the burrows of the Nightmare
Where Justice naked is,
Time watches from the shadow
And coughs when you would kiss.

In headaches and in worry
Vaguely life leaks away,
And Time will have his fancy
Tomorrow or today."


As I Walked Down One Evening
W.H.Auden



Ontem tomei uma decisão difícil. Depois de ponderar sobre o meu tempo e energia (ou falta deles), decidi, ao fim de quase dois anos, sair do meu grupo de teatro. Com um trabalho a full time, aulas três vezes por semana e os muitos trabalhos a que o curso obriga, concluí que sair era a solução mais sensata. E pensei que me ia sentir aliviada quando o fizesse.

Fui um bocadinho inocente.

O meu professor/encenador não só compreendeu como ele próprio me disse que seria praticamente impossível conciliar tudo. Não agora, que há ainda poucos ensaios. Mas daqui a dois meses os ensaios vão intensificar e já conheço o método de trabalho. Ensaios todas as noites, até à uma, duas, três, quatro da manhã…
Racionalmente, sei que não iria aguentar e ia acabar por não fazer um trabalho decente em nenhum dos lados.

Não seria justo para mim nem para as pessoas com quem lido nos diversos projectos em que estou neste momento.

Este é o lado racional.

O lado emocional é que é o problema.

O encenador disse-me, na brincadeira: “ Agora que não estás connosco tens uma vida cinzenta”. Não é inteiramente verdade. Tenho outras alegrias, outras paixões, outros projectos. Mas sem dúvida que vai ficar um bocadinho mais cinzenta. Custa pensar que tenho de ter tempo para vir todos os dias para aqui trabalhar mas não consigo ter tempo para fazer uma das coisas de que mais gosto. É este o meu futuro?

E é esse lado emocional que me faz pensar: “se calhar até consigo fazer tudo isto”, “se calhar não vou sair já”… “Estou a ser sensata ou preguiçosa?”

Porque ontem saí de lá com um nó no estômago. Pelos ensaios que me dão cabo da cabeça e dos nervos. Pela ansiedade das estreias. E de todos os espectáculos que se lhe seguem. Pelos bastidores. Pelo momento em que temos aquele bocadinho palco para nós. Pela cumplicidade entre colegas que o público nunca conhecerá. Pelas discussões com o encenador que, passado algum tempo, parecem tão ridículas. Pela tristeza do último espectáculo e do desmontar de uma peça de que já estávamos todos fartos. Pela velha comilona, pela mulher do campo e a empregada fantasma que habitei durante uns tempos. Pelos amigos.

Esses ficam mas vão viver momentos deles, de que eu já não vou fazer parte. E há também os que vão pois na minha visita de ontem fiquei a saber que um dos meus amigos mais próximos vai trabalhar para o estrangeiro ( se bem que, vendo as coisas pelo lado positivo, já tenho casa em Barcelona).


Sou livre de voltar para lá quando quiser, a porta ficou aberta, escancarada mesmo. Mas e se no próximo ano também não puder?

É o fim de uma Era.



PS- A gerência do blog promete recuperar a compostura em breve e retomar a sua pose snob e irónica em breve

PS1- se quiserem ler o poema todo, basta escreverem no google “As I walked Down One Evening” que aparece logo no início.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito de ler este post. Pena ser motivado por algo triste.
Sabes que as estradas da nossa vida não são todas em linha recta com opções paralelas (eu diria, bem pelo contrário..). Por vezes damos grandes voltas ou temos encruzilhadas onde podemos sempre reavaliar e retomar caminho. É certo que o tempo vai passando mas a última porta a fechar está dentro de ti. Se nunca fechares essa porta, tens sempre uma oportunidade de voltar.
A bem de outras coisas importantes na vida que também nos são gratas e valiosas, por vezes temos que abrir uma mão para sentir terra firme na outra. Sentiste que fizeste a diferença, foste relevante para outros e para ti própria nesta experiência no teatro. Tudo isso nasceu muito mais da Joana do que do ambiente em redor. E isso não vai desaparecer. E quem sabe se daqui a uns tempos, vais outra vez atravessar a porta e voltar a pisar caminhos conhecidos. (Luis)

miguelb disse...

A vida é feita de mudanças, que frequentemente nos custam. Acho que não deves pensar nisto como o fim de uma era - quem sabe, é apenas um intervalo? Normalmente os "fins de era" só são interpretados como tal a posteriori.

Este teu post inspirou-me para o meu último post...

Miguelb

Anónimo disse...

Absolutamente fora de questão dares por abandonada a tua fulgurante incursão pelo teatro!

Não só pela óbvia razão de aquilo te ser mesmo importante (e de ser mesmo importante em geral, como catarse, como trabalho de creatividade e criação), mas também porque acho que no futuro poderás conciliar a vida profissional com os intervalos lúdicos que ela permite. Esses intervalos estão hoje bloqueados pelo curso, mas o curso dura um ano; mesmo que haja mais formação em vista haverá uma ltura de estabilização, emq ue apenas te ocupará prioritariamente a actividade profissional, e aí surge, novamente, a faiscar, o intervalo. Intervalo para teatro, ainda por cima, como dizes, a porta ficou aberta.

Nem pensar que te ficarás só por estes três espectáculos, aqui este espectador atento e fã que te vai acompanhando dedicadamente ficaria destroçado, pobre coitado. :)

paulo